Há dias que por um breve (as vezes longo) momento me sinto encurralada por meus próprios pensamentos, pensamentos os quais tento manter distante, mas inevitavelmente eles fazem uma visita. E durante essas visitas perco a vontade de ir contra a minha interna correnteza e considero me deixar levar pelos sentimentos que ela me causa.
Eu sei que não estou sozinha, inclusive não é difícil para eu me abrir com pessoas pŕoximas a mim, mas não tem sido o bastante, conversar tem ajudado por um curto período de tempo, mas eu não sei como lidar com a maré quando me encontro com ela novamente.
A verdade é que preciso me confrontar, eu sei que preciso fazer algo, mas não sei o que, nem como. Eu consigo entender a origem desses pensamentos e quais são os fatores causadores, mas eu não sei o que fazer quando chegam e muito menos me livrar deles, isso me frusta.
Eu sei que não estou sozinha, e isso parece ser justamente a grande causa de tudo. Cortar qualquer vínculo que exija de mim algum tipo de responsabilidade emocional, comigo ou com o outro, parece então a solução perfeita, afinal eu não mais precisaria lidar com as consequências que esse vínculo me trás, porém sei que é uma solução covarde, na verdade eu nem deveria considerar como uma solução, e sim o caminho mais fácil baseado no medo e na sensação de não saber o que fazer.
Como mero ser humano que sou, eu preciso estabelecer e manter vínculos com outros seres humanos, sejam estes vínculos amorosos ou não, e isso vai sim exigir de mim uma responsabilidade emocional, e mesmo que eu de fato escolhesse me distanciar de vínculos emocionais no geral, eventualmente me aproximaria de alguém e novamente chegaria nesse dilema, simplesmente porque não sou imune à sentir, não sou imune à pessoas.
Dito isso, a primeira coisa que está claro pra mim é que o problema não está nas relações, o problema está dentro de mim, e muito provavelmente relacionado ao meu controle emocional baseado na minha experiência emocional de vida. Não tem nada de errado em eu me sentir como me sinto, não há nada de errado em, durante um momento de desespero, considerar fugir de eu mesma, um problema maior seria se eu não conseguisse me trazer de volta à realidade, mas felizmente isso acontece.
O que devo fazer então? Eu sinceramente não sei, eu tento pensar em soluções palpáveis, não é como se eu nunca tivesse feito isso antes, muito pelo contrário, já me superei de diversas formas, mas ainda sim tenho muito medo, o suficiente para não conseguir botar em prática nenhuma das ideias que parecem boas.
Ignorar ou evitar a todo custo esses momentos não parece ser uma opção, minha mente e o que passeia por ela não é algo que tenho total controle. Eu acho que só me resta tentar bater de frente todo dia um pouco mais para que doa todo dia um pouco menos.
Ignorar ou evitar a todo custo esses momentos não parece ser uma opção, minha mente e o que passeia por ela não é algo que tenho total controle. Eu acho que só me resta tentar bater de frente todo dia um pouco mais para que doa todo dia um pouco menos.
O amor não acaba de um dia para o outro. Você não vai dormir uma noite amando alguém e acorda no outro dia livre desse sentimento, como se ele não existisse mais. É um processo que vai acontecendo aos poucos, não conseguimos prever, mas coisas começam acontecer e até parecem solucionáveis, outras parecem fúteis demais para causar o fim daquilo que você acha que vai durar pra sempre. Geralmente não é um único acontecimento que leva ao fim do amor, mas sim um acumulo de situações tratadas com descaso, um aglomerado de palavras não ditas que em um certo dia vem a tona.
Inicialmente você tenta dar o seu melhor, porque você acredita que vale a pena se esforçar e lutar para manter aquele amor vivo, afinal vocês já passaram por tanta coisa juntos, não é mesmo? Mas de repente você vai deixando de se importar, principalmente se suas tentativas forem em vão ou se há aquela sensação de que só você está dando o seu máximo por aquela relação.
Mesmo quando o amor finalmente acaba, não conseguimos simplesmente deixar de sentir tudo o que sentíamos de um dia para o outro. Recaídas são normais, mas você está sendo trapaceado por você mesmo. Eu vejo o fim do amor como a morte de um ente querido, com dificuldade aceitamos o fato da morte em si, mas sofremos com o luto, não há como traze-lo de volta à vida, mas ainda temos muito pelo o que sentir.
Seja pela a saudade que vem ao recordar momentos agradáveis que vivenciaram juntos, seja pela quebra inesperada da rotina de não ter mais aquela pessoa que costumava estar tão presente na sua vida ou ao lembrar de algum gosto ou mania bem específica dela e que era só dela. Coisas assim, características que são exclusivas da relação entre você e alguém.
Porém com famoso passar do tempo tudo vai ficando mais fácil e de repente não temos muito mais o que sentir. Momentos vivenciados com pessoas diferentes vão ganhando espaço e se acomodando dentro de nós, outras pessoas se tornam especiais e assim de pouco em pouco o luto cede seu lugar a novos sentimentos. Não é como se estivéssemos esquecido daquela história que vivemos, isso nunca vai acontecer, mas simplesmente ela perde sua relevância no nosso dia-a-dia e lembrá-la não causa mais nenhum alvoroço.
Mas é claro, o amor é uma incógnita e atinge de forma diferente e única cada um de nós, essa não é - e nem vai ser - a única interpretação possível, é só a minha visão de como o amor acaba de acordo com alguns amores que morreram na minha vida.
Eu estava vivendo um dos melhores dia da minha vida
Naquele momento eu ainda não sabia
Quando te vi eu percebi como me olhava
Você me quis, eu senti
E no mesmo instante eu correspondi
A gente quase se perdeu, foi por pouco
Torci para você me acompanhar enquanto me afastava
E você o fez
O melhor dia da minha vida e você lá estava
Certo tempo depois nos encontramos
Durante uma tarde toda jogamos conversa fora
E ao anoitecer eu não queria que você fosse embora
Eu te recebi de braços abertos, e pernas também, apesar da timidez
Por um momento considerei sentir mais uma vez
Mas me coloquei no meu lugar
Criei expectativas, eu queria amar
Não causei em você o que você causou em mim
Está tudo bem, você não tinha nenhuma obrigação
Por um tempo imaginei como seria você e eu
Foi bom relembrar o gostinho da paixão
As vezes não é para ser
Mas foi bom te conhecer
Saiba que você é incrível
E aqui te guardo com carinho
Na cozinha da casa que eu moro existem quatro lâmpadas, cada uma disposta em um dos cantos do teto. Uma elas deixou de funcionar. No dia eu percebi de imediato que algo estava errado no momento em que ascendi as luzes, e em poucos segundos eu notei que uma delas não estava ascesa. Aquilo me incomodou, bastante, a ausência da luz daquela lâmpada quebrou o equilíbrio e a harmonia da claridade da cozinha.
Troquei a lâmpada e recuperei a sensação de conforto, a claridade voltou a estar em equilíbrio, tudo estava normal. Alguns dias depois, uma semana no máximo, novamente a mesma lâmpada deixou de funcionar, e instantaneamente eu percebi e voltei a me sentir incomodada. Dessa vez não troquei a lâmpada, pois eu descobri que o problema não era a lâmpada ter queimado, mas sim o conector dela estava com mau contato e solucionar esse problema não é tão simples quanto trocar uma lâmpada queimada.
Somente três lâmpadas claream a cozinha, e isso quebra a harmonia da claridade do ambiente, porém com o passar dos dias eu fui deixando de me sentir incomodada com isso, e passei a conviver com esse problema, passei a aceitá-lo, não sentia mais a necessidade de consertá-lo, primeiro porque iria exigir um pouco mais de esforço e segundo porque a ausência daquela lâmpada deixou de me fazer falta, eu me acostumei a estar na cozinha sem ela.
Depois de algumas semanas sem nem lembrar disso, ontem entrei na cozinha e ascendi as luzes e a primeira coisa que reparei foi que eu não reparava mais nesse problema, mas eu me deparei novamente com ele, percebi que eu não estava mais incomodada com aquilo, apenas sei que preciso arrumar essa lâmpada, mas a verdade é que agora tanto faz.
E foi assim que uma simples lâmpada me fez refletir sobre coisas que um dia me incomodaram, me machucaram, me tiraram horas de sono, até mesmo lágrimas, seja lá o que for, e depois de um tempo tanto faz e tanto fez. Depois de um tempo lidando com isso diáriamente, me acostumei e deixei de me importar, e encontrei outras coisas para dar importância.
Na vida temos muitas lâmpadas que não funcionam.
Eu tenho me surpreendido com o que tenho lido e escutado de pessoas próximas e distantes de mim, alguns elogios e percepções (positivas) que elas tem sobre a minha pessoa e geralmente - se não sempre - eu não enxergava esses aspectos em mim, porém basta eu analisar e refletir por um tempo para eu conseguir me ver dessa forma.
O que deixa claro que existe ainda muita coisa que preciso conhecer e reconhecer em mim, principalmente as coisas boas que eu costumo deixar de lado. Eu acredito que a maioria de nós temos a tendência a ter uma imagem mais negativa sobre nós mesmo do que realmente é, porque não somos imparciais, aplicamos nessa imagem as nossas vontades, nossas cobranças e tudo aquilo que nos incomoda, e o outro consegue olhar e ver sem o peso da nossa consciência.
Ultimamente durante conversas entre meu namorado e eu, sempre que eu consigo externalizar um pensamento, seja sobre mim, sobre a vida ou sobre algum assunto em específico, eu tenho a oportunidade de ouvir a opinião e ver a visão dele sobre o mesmo tema. E ocasionalmente eu tenho a sensação de estar projetando naquilo o peso da minha consciência, distorcendo a imagem de como ela realmente é.
As vezes pode nem ser de fato a imagem real, mas só de conhecer um novo jeito de olhar eu já agrego algum conhecimento, eu já consigo me desprender de coisas que não faziam sentido, muitas vezes guardar aquilo só dentro de mim me machucava, e ao compartilhar eu tenho a sensação de deixar ir.
É sempre prazeroso dialogar, é sempre prazeroso descobrir um novo ângulo de visão que eu desconhecia, as vezes eu descubro que o que me aflinge na verdade é o primeiro passo para solucionar aquela situação, é simplesmente gostoso conhecer novas formas de pensar que são diferentes da minha, porque isso me ajuda a ver as coisas mais perto de como elas realmente são e menos como eu queria que fossem.
De tempos em tempos sou assombrada por dores antigas. Elas se tornaram feridas e ainda não parecem estar muito bem cicatrizadas. Eu não imaginava que eventos tão pequenos poderiam marcar a minha mente por tanto tempo e com tanta intensidade. É como se existisse um cantinho dentro dos meus pensamentos enraizado e reservado para essas dores, eu evito olhar de perto, porém as vezes acontece e só então percebo como ainda sou afetada por aquelas cenas que estão fotografadas em meus olhos.
Geralmente a minha mente me prega peças e me faz visitar esse lugar, é como se eu estivesse esperta e na espera daquilo acontecer de novo, mas fico na torcida pra que não aconteça. É um medo bobo de não querer mais me sentir como já me senti um dia, mas acaba sendo exatamente o que acontece quando percebo estar sabotando a realidade. Sempre que eu faço um passeio por esse canto eu relembro aqueles momentos e sentimentos, como se eu estivesse novamente ali. De que adianta?
Chega a ser irracional, é tão natural que não percebo, e falar em voz alta faz eu me sentir patética, e eu queria que fosse simples assim tirar isso de mim. Queria aceitar as justificativas que já me deram, queria ver com a clareza que alguns veem, queria aceitar os fatos. Queria falar explicitamente sobre isso, agora mesmo, mas é vergonhoso até pra mim, e tudo o que eu fiz foi estar lá na hora errada e no momento errado.
Já cogitei abrir mão de certas coisas para não me expor à possibilidade de reviver esses episódios. Evitar o inevitável, não parece uma boa solução, infelizmente carrego comigo feridas causadas por terceiros e que hoje eu sozinha preciso cuidar e descobrir como cicatriza-las, e o que me conforta é saber que não estou de fato sozinha, porque eu sei que cada um de nós carregam feridas, independente de qual seja a sua, e eu sei que quanto mais o tempo passa, mais fácil fica.